sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Apelo ao voto IV

Poderá votar hoje, entre as 17h e as 22h nas duas Secções de Voto de Lisboa e Porto.

VOTE

Só os votos por correspondência entrados até às 19h do dia 28 de Fevereiro e que cumpram as instruções enviadas a todos os membros com direito de voto serão considerados válidos.

Os membros podem, atempadamente, verificar se reúnem as condições para votar, ou seja, se constam nos cadernos eleitorais, fechados à data de 31 de Julho de 2007. Os cadernos eleitorais podem ser consultados, directamente ou via telefone, nas secretarias das Secções Regionais Norte e Sul, de acordo com a inscrição do membro.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Conversa falada sobre a OA - Manuel Vicente

Uma Ordem mais atenta às necessidades dos associados

O primeiro ponto é fixar que a Ordem deve servir para “alguma coisa”: na nossa perspectiva é bastante claro que deve ser uma entidade capaz de fornecer serviços aos seus associados. A evolução “legalista” e burocrática do exercício da profissão exige que a Ordem possa funcionar como uma espécie de plataforma de apoio. Por exemplo, as solicitações de seguros e garantias bancárias inibem muitas vezes a participação de ateliers de menor dimensão em concursos. E não falamos somente de apoios aos mais jovens, mas também de arquitectos que possuem estruturas profissionais menos competitivas. A Ordem poderia ser aqui mais actuante, servindo de intermediária, negociando com os universos financeiro e segurador de forma a encontrar modelos ajustados à prática da profissão; poderia também ser intermediária de empréstimos bancários prestados a novos ateliers ou ao estabelecimentos de novos locais de trabalho.

Descentralização

A Ordem deve trabalhar directamente com as Associações de Municípios que são estruturas mais orgânicas que a estrutura administrativa do território. Estas associações têm uma visão mais clara das realidades locais, possuem independência de acção, estão receptivas a contactos informais, parcerias, protocolos, convénios que muitas vezes não passam pela burocracia estatal. Há nestes universos mais locais, sinergias que passam pelas relações pessoais, reflectindo-se em relações mais transparentes que aproximam as pessoas e as práticas: relacionando as necessidades reais do campo da prática profissional.

Devemos tornar a organização da Ordem uma entidade menos longínqua e menos abstracta para os associados e para a sociedade, transformando-a numa coisa mais concreta, com “cara”. Neste contexto, é importante aproveitar as sinergias de quem dá “a cara” e aqui falamos obviamente dos Núcleos. Pensamos que deverão ser feitas alterações na Ordem a nível estatutário que reformem a estrutura actual.

Não faz sentido existir apenas duas organizações regionais – e penso mesmo, correndo o risco de ser polémico, que deveriam sair dos núcleos as direcções das delegações regionais. É necessário olhar para o país e para o que “resta” da regionalização e perceber que todas essas regiões (novas) necessitam de uma delegação. É despropositado que a gestão administrativa da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, por exemplo, compreenda o Algarve, e menos ainda, os Açores e a Madeira.

Formação Contínua

A Ordem dos Arquitectos tem investido na promoção cultural de uma forma que as outras Ordens – caso dos Advogados ou dos Médicos, por exemplo – não fazem. A preocupação maior que a Ordem deveria ter, aquela que imagino como mais progressiva e futurante, é a que toca na questão fundamental da formação contínua. É importante estabelecer protocolos com as universidades para garantir horários pós laborais para actos de formação continua, ultrapassado desta forma o sentido um pouco amador que parece enquadrar este serviço. A profissionalização da formação contínua é um passo essencial.

Outro aspecto importante prende-se com a existência de formações que são transdisciplinares e que se podem articular com outras ordens profissionais. A formação contínua deve ser próxima das necessidades da prática, articulando todos os intervenientes no processo de edificação.

Uma coisa que parece interessante é, por exemplo, perceber o sentido do estatuto da Ordem dos Advogados que impede um advogado de empregar outro advogado, levando assim à criação de associações de advogados. Acho bastante positivo que se caminhasse nesta direcção também entra a classe dos arquitectos e que, progressivamente, existissem sociedades de arquitectos porque os problemas da autoria, da responsabilidade profissional, ficariam mais clarificados.

Criatividade

Portugal tem vivido recentemente dinâmicas de integralismo em todos os sectores da sociedade – há um nivelamento, um denominador comum que, em parte, justifica a falta aparente de criatividade que a nossa sociedade apresenta. Há alguns casos – jovens maioritariamente – que conseguem fugir a este modo de estar, ou de ser, e que são aquelas pessoas que inventam coisas e avançam. É engraçado ver que essa gente vem de profissões com alguma marginalidade: não cresceram integradas em sistemas de carreira ou de visibilidade profissional e, talvez por isso, acabam por ser o único sector criativo da sociedade portuguesa.

Gerações

Sinto por vezes que faço parte de uma espécie em vias de extinção e esta é uma das razões que também me motiva a concorrer a Presidente da Ordem. Porque acho que há um testemunho a passar e que a nossa geração ainda pode fazer a ponte entre toda a rica tradição da arquitectura como elemento transformador, por via artística, da sociedade, dos estilos, dos gostos, das percepções do corpo, do enriquecimento do quotidiano e da construção de significado… O que parece importante é não deixar que tudo desapareça sem existir uma alternativa que vanha a pena – porque aqui não é exactamente uma questão de transformação, mas uma questão de desaparecimento.

Opinião - Blogosfera

Opinião - Alexandra Campos

Queridos amigos,

Amanhã há eleições na Ordem dos Arquitectos. Apelo ao voto com espírito crítico, inteligente e contestatário numa Lista que tenha um programa com soluções inovadoras e pertinentes, que promova o nosso código deontológico na prática profissional de todos os arquitectos e entidades envolvidas nessa actividade.

Amanhã vou votar na Lista C, que tem o arq.tº Manuel Vicente como candidato a presidente.


Alexandra Campos

Opinião - Avelino Oliveira

A Ordem dos Arquitectos

Acredito nos pressupostos de quem se propõe fazer coisas óbvias de forma simples.

Estou convicto que a Ordem dos Arquitectos deve ser a plataforma de apoio e regulação do exercício da profissão.

Prefiro uma Ordem direccionada para a profissão, numa estratégia assumida de representação de todos os arquitectos e da sua actividade profissional.

Uma Ordem que se preocupe igualmente com o trabalho transversal da profissão, no projecto, na obra, nas empresas, nos organismos públicos, etc.

Uma Ordem que se convença que o “atelier”, sendo um denominador comum de todos os arquitectos, já não é, hoje, o único local de exercício profissional da maioria.

Uma Ordem que não crie obstáculos aos novos profissionais. E além de suprimir esses obstáculos, que não seja conivente no aproveitamento indigno da mão-de-obra dos jovens licenciados.

Uma Ordem em que os arquitectos se sintam defendidos por igual e representados por todos, sem “corporativismos”, mas também sem a ingenuidade que tem sido habitual no seio da profissão.

Uma Ordem menos atreita a vedetismos e mais disponível a promover o associativismo e a solidariedade.

Finalmente, reconheço no Manuel Vicente a experiência e a juventude para incentivar este processo.

Reconheço-lhe a humildade e coragem para assumir com frontalidade as causas que importam.


Avelino Oliveira
(candidato ao Conselho Nacional de Delegados)

Opinião - Bernardo Campos Pereira

Trabalhei uns curtos meses no atelier do Manuel Vicente, e ficou-me bem vincado a sua capacidade de trabalho de equipe, a sua incessante procura, e sobretudo a sua abertura para encontrar soluções interessantes e por vezes fora do comum nos projectos. Pelo programa apresentado pela Lista C, pela sua organização e iniciativas, bem como a equipe diversificada que apresenta acredito que todos podemos participar e beneficiar deste entusiasmo e abertura de mente. Parece-me uma opção que poderá ajudar a estabelecer o papel dos arquitectos e da disciplina junto do país real.

Bernardo Campos Pereira

Opinião - Pedro Gadanho

Onde param os arquitectos portugueses?

Agora que se repetem as eleições para a Direcção Nacional da Ordem dos Arquitectos, é porventura importante perguntar onde tem parado os arquitectos portugueses nos tempos mais recentes.

Quando há 10 minutos atrás se abateu o silêncio ensurdecedor sobre o facto do primeiro-ministro português assumir a autoria do que podem ser considerados crime estéticos e uma aberração cultural, pareceria lógico perguntar onde param os arquitectos portugueses.

Agora também urge perguntar onde eles param quando, numa espécie de projecção suicida das tendências vigentes entre a população portuguesa, é esperada uma participação de cerca de 15% nas eleições para a Ordem dos Arquitectos.

Falta de auto-estima da classe profissional? Falta de opções? Ou pura falta de interesse? Alguma coisa está certamente em falta.

Face a outras classes profissionais liberais que disputam árdua e publicamente aqueles que vão representar os seus destinos, os arquitectos portugueses espelham bem o estado corrente do país.

Não é de admirar que exista um absentismo absoluto. Com a explosão "democrática" dos cursos de arquitectura, os arquitectos deste país são hoje uma perfeita amostra demográfica do país que temos. E ainda bem.

Porém, o que é eventualmente mais grave é que, apesar da sua formação superior, os arquitectos podem, assim, estar a ecoar a cultura cívica - ou a crise social de que falava a Sedes - com que hoje contamos em Portugal.

Comecemos pela crise.

Não é de excluir a hipótese de que o absentismo eleitoral dos arquitectos se explica por razões bastante prosaicas.

A maior parte dos arquitectos, nomeadamente os mais jovens e desfavorecidos da classe não votam porque... não pagaram as quotas!

E porque é que não pagaram as quotas? Porque estão desempregados ou porque são tão mal remunerados que tem naturalmente que remediar outras necessidades mais básicas. Interessante, não é?

Isto sugere imediatamente que, se estão verdadeiramente interessados na participação eleitoral, os candidatos aos órgãos nacionais da Ordem dos Arquitectos deviam acordar um pacto de regime súbito: uma amnistia - ou, ecoando a extraordinária flexibilidade legislativa portuguesa, uma alteração estatutária temporária - para permitir que todos votassem nestas eleições.

Adiante. Subsistem ainda algumas outras possibilidades para justificar o absentismo geral dos arquitectos.

Também é verdade que muitos dos 16.000 arquitectos a que me refiro estão no estrangeiro. Face a uma tendência autofágica da classe arquitectónica portuguesa - que também lembra outra coisa qualquer - muitos dos arquitectos recentemente formados decidiram, pura e simplesmente, emigrar.

Isto é, o investimento e a permissividade do Estado na formação superior desta classe traduz-se, como já acontecia com cientistas e outras especializações de ponta, em exportação de cérebros ou de mão de obra competente, enquanto por aqui nos vamos lamuriando de desordenamento do território. Interessante, não é?

Esta é, aliás, uma resposta à questão que dá título a este artigo que combina perfeitamente com o equívoco ético e estético que recentemente envolveu o engenheiro civil José Sócrates.

De facto, para quê pagar o custo dos serviços, dos recursos humanos e da competência técnica nas quais o Estado investiu os impostos dos contribuintes, se ainda há por aí uns chico-espertos que dão conta do recado e da paisagem?

Os chico-espertos - que às vezes até são arquitectos pois, afinal, eles também "andem aí..." - saem mais barato, têm uns contactos na Câmara local que "facilitam a coisa" e até foram os primeiros a perceber que mais vale fazer o gosto ao dedo do cliente, que isto não está para modas.

Mas, perguntar-se-á então, a arquitectura não estava na moda?

Depois da celebração e da celebridade de Siza Vieira e de Eduardo Souto Moura, os arquitectos não deveriam andar por aí felizes da vida?

Não adquiriram prestígio social e profissional?

Não obtiveram reconhecimento no "estrangeiro"?

Não tiveram, nos últimos 15 anos, maior exposição mediática interna do que médicos, advogados e engenheiros?

Tendo eu realizado um doutoramento sobre a visibilidade da arquitectura em meios generalistas como o jornal O Público, posso assegurar que todas estas hipóteses são sustentadas e confirmadas por dados objectivos. À excepção, claro, da parte da felicidade.

Curiosamente, em Portugal, a celebridade, a projecção e o prestígio não fertilizaram o campo. Deve ser uma característica endógena. Ou o facto de, apesar das aparências, sermos um país estruturalmente pobre.

As circunstâncias mudam e as conjunturas também e, depois de uma prolongada ascensão demográfica e mediática, os arquitectos portugueses parecem, de novo, ter desaparecido para parte incerta.

Apesar das campanhas do "direito à arquitectura" - já agora, algum não arquitecto ouviu falar disto? - os portugueses ainda não parecem estar dispostos a pagar a mais-valia do serviço arquitectónico.

Isto também justifica a ausência dos arquitectos.

E donde vem o problema? Será que os portugueses não valorizam ou não podem valorizar a sua qualidade de vida ao nível de outros países europeus? Será que não podem, pura e simplesmente, pagar os serviços de um arquitecto preferindo assim entregar-se assim às competências dos chico-espertos? Será que têm de facto a sua própria cultura de gosto e preferem decidir por si? Ou será que a tabela de honorários dos arquitectos é desadequada à realidade do país? Ou serão as regras de mercado que estão a distorcer a oferta e a procura? Ou acontecerá, afinal, simplesmente, que os arquitectos deviam ser pagos por área a edificar e respectivo preço médio oficial de construção em vez de auferirem remunerações que flutuam com o preço final de obra - assim se acabando com muitos jogos de bastidores que prejudicam clientes e destinatários e assim se esvaziando também as distorções deontológicas que fazem com que seja um contrasenso económico para o arquitecto invistir tempo e recursos na redução de custos de obra do seu cliente?

Das mais gerais às mais prosaicas, estas, como muitas outras, são questões que justificam uma tomada de consciência e de posição dos arquitectos e dos seus legítimos representantes face à imagem que projectam de si próprios enquanto classe profissional.

Dado o contexto particular da nossa auto-proclamada "West Coast," talvez os portugueses ainda não tenham percebido, de facto, qual o papel que a arquitectura pode desempenhar no seu dia-a-dia e na sua qualidade de vida colectiva.

Afinal, a maioria dos portugueses só sabem de longe da vã gloria dos centros culturais desenhados por arquitectos de "qualidade arquitectónica reconhecida" que, entretanto, tem as suas portas encerradas por faltas de verbas, programas e atractivos. E alguns mais iluminados só sabem que se tiverem dinheiro para investir em condomínios privados de luxo é bom que haja um "arquitecto de renome" envolvido.

Visto que assim já sabemos onde param os portugueses, onde param, entretanto, os arquitectos portugueses?

Onde param os candidatos a estas eleições da Ordem dos Arquitectos, esses que devíamos estar a ver e ouvir nos media de massa a exporem os seus programas, as suas opiniões públicas, as suas posições, as suas diferenças, as suas reflexões e proposições sobre o estado da prática da arquitectura em Portugal?

Onde param, neste preciso momento, as luminárias da arquitectura portuguesa, essas que prometeram mais intervenção crítica e social?

Onde param os críticos de arquitectura e os formadores de opinião, esses que, neste preciso momento, deviam estar a contrapor visões e perspectivas sobre o que precisa de mudar nos consensos excessivos em torno das vias únicas que actualmente caracterizam a arquitectura portuguesa?

E, para além dos emigrados, dos desenrascas e dos dignos representantes da geração rasca, onde param esses " "jovens arquitectos" que constituem a maior parte dos arquitectos inscritos na Ordem e que agora se remetem, como é sua condição geracional mais vasta, a um silêncio comprometido com o status quo?

Por este andar, onde vão parar os arquitectos portugueses?


Pedro Gadanho, arquitecto

(este artigo foi também publicado hoje no Público)